Se observarmos à volta, podemos nos deparar com um engenho de uma máquina social que nos coloca a condição de viver sobre paredes, regras, condições! Como se estivéssemos dentro de caixas, em uma grande caixa […] colocando por vezes sobre nossas costas o peso do formato em que temos que nos enquadrar para continuar fazendo parte do pacote! São muitos exemplos que podemos constatar. Ai de mim!

Na caixa do trabalho, podemos achar o cenário em que se trabalhe 8 horas diárias, 6 dias por semana, sobrando poucas horas semanais que serão divididas entre o extremo desgaste do corpo e mente, e as outras “obrigatoriedades” que ainda passam a impressão que somos humanos. – Afinal, merecemos uma cervejinha no final do expediente, não é?!  O que lhe sobra?

Na caixa do coração, encontramos as funções morais, costumes e normas, que consideravelmente não se enquadram nas mais diferentes e singulares formar de amar; não vivemos habituados a deixar o amor poder amar pessoas do mesmo sexo, amar mais de uma pessoa, a não querer se relacionar com ninguém; a amar sem contratos, papeis, ou estruturas determinadas que nos dê um engodo que fazemos parte de um laço de presente aceito, aprovado e legitimado pela sociedade. O que lhe sobra?

Na caixa do deixar-se ser! Vamos encontrar as contradições de que viver do que nos torna subjetivos pela nossa mais revolucionária forma de ser, não é garantia de vida!  Somente os mais favorecidos poderão ser! Você não pode viver de arte, educação, escrita, filosofia, ou qualquer outra coisa que seja meramente do humano para outro – se quiser viver destas, sem dúvidas vai ser encorajado: – Isso não dá dinheiro! O que lhe sobra?

Na caixa da consciência, podemos tomar nota de tudo dessa caixa… ter de forma clara nosso descontentamento das tantas formalidades das caixas. Mas o que podemos fazer diante delas? É essa pergunta que se faz sempre que damos conta da caixa grande que se acopla a tantas outras caixas. É considerável pensar: – mas tenho contas a pagar, família a constituir, ou qualquer meio que me faça sentir que faço parte de alguma caixa! Temos que fazer parte de algo, não temos? O que lhe sobra?

Pois é! E assim vamos vivendo, por vezes esmagados [preso em mim] pela forma de ser ‘não em si’! Estamos fadados ao preocupar-se com rótulos, dinheiro, prazos, normas, horários, consumo, status, poder. Somos o que fazemos e não o que podemos fazer!

Mapeando a caixa do corpo humano dentro de uma caixa

Os pés são para marchar em ordem; e não para dançar, valsar, caminhar ao encontro do que torna potente em si […] mas pode correr na academia, para tornar seu corpo apreciável as caixas da estética e da aceitação.

A boca para ordenar ou calar; e não para cantar, beijar, saborear.

Os braços e mãos para forças do executar a qual o julgar das caixas predizerem sobre suas condições; fazem relatórios, operam máquinas em fábricas, contam dinheiro para os que tem dinheiro; não para abraçar, tocar piano, violão, escrever, segurar um livro.

Mas o que fazer diante de tudo isso? Abandonar o trabalho? Sair de relacionamentos que me colocam em funções de prisão? Sair com uma mochila nas costas em busca de descobrir o mundo? Mudar de cidade? Estado? País? Planeta? Posso sair destas caixas? Posso me arriscar?

Sim! Diga sim! Que aprendamos a dizer sim! E não de uma posição infantilizada de que passaremos a não fazer parte de caixas, regras, ou qualquer alimento que nos impeça de ser revolução de nós mesmos.

Mas na possibilidade de considerar possibilidades, de qualquer ação ativa que nos impulsione a bater retirada da vida entorpecida de caixas cinzas, da anestesia das relações que não provocam o afeto de potência.

E em último ato, desacoplar de tudo que nos faça estar distante de nossas intensidades de novos agenciamentos e organizações que nos afasta da sensação de potente! E existente – O sentimento de que a vida vale apena ser vivida!

Predizer a saída das caixas, nos coloca a (des)organização do corpo, que passa a ser instrumento de intensidade – não há receitas, métodos, modelos ou forma de se fazer, a não ser o experimentar, a não ser o romper deste eu, para o encontro de si, a não ser para expandir a consciência ao entorno interno do processo de subjetivar-se!

O sentimento de medo é operante, afinal, quem quer se arriscar fora das caixas, quando o estar dentro dela pode ser confortável!?

E o que fazemos com os medos? Com nosso desejo de encontrar a porta de serventia da casa?

Eu concordaria com Deleuze e Guattari em dizer PRUDÊNCIA!

[Cuidado, medida!]

A questão é a seguinte: o que pode um corpo? De que afetos você é capaz? Experimente, mas é preciso muita prudência para experimentar. Vivemos em um mundo desagradável, onde não apenas as pessoas, mas os poderes estabelecidos têm interesse em nos comunicar afetos tristes – Deleuze, Diálogos.

Prudência é ação de pensamento; de ser luz as escolhas de esquentar, ou esfriar, conectar ou desconectar, permitir ou não os acontecimentos da sua vida!

A prudência é um instrumento da ousadia! […] Não é uma crença boba, ingênua, uma experimentação porra louca, idiota. Existe um jeito, uma questão de dose, a arte das doses, colocar a prudência no lugar do medo. Não a prudência para limitar a ousadia, justo ao contrário, é a prudência que vai levar a ousadia ainda mais longe – Luiz Fuganti.

Por fim, prevejo que em tempos atuais a alma pede emergência, que ainda há por onde ir, e o que fazer dentro de nós, desta substância da qual somos feitos, podemos não ser caixas para ser universos. Podemos ser, podemos continuar…

 

 

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